“Beyond Luso-Futurities”

According to Amir Eshel, society has been trapped in replaying the traumas of the past. But we might, together with Jacques Derrida, consider the difference between a predictable future (future), already on the horizon as a continuation of the present, and the time to come (à-venir), which opens up new possibilities and thus disrupts the projection of sameness onto the time ahead. In this sense, contemporary literature and the arts engage with past events, not so much to rehash these moments but rather to offer a way forward, the possibility of confronting today and envisioning a different tomorrow. At a time of crisis and catastrophe, the theme of futurity recognizes the need to re-imagine what is just over the horizon of time and acknowledge what is and will be future loss (Halberstam 2005, 2011, 2018, Pratt 2022). Or as Mary Louise Pratt contends, we must judge the concept of futurity, or for that matter all concepts, for their ethical dimension and recognize that they “must be judged both for the futures they enable or disable and for their successes at doing so.”

Futurity is, according to the Oxford Dictionary, a future time, a future happening, a renewed existence. Futurity has been a constant in Lusophone cultural production, from colonial times to the Early Modern period and their expressions of settler futurity (Tuck and Yang 2012), to the Brazilian Modernists of the early twentieth century and into the contemporary moment. Futurity underpins theoretical discussions and material reality of/in the creative works of Afrofuturism (Dery 1993), Indigenous futurity (Dillon 2012), Queer futurity (Edelman 2004, Muñoz 2009), Crip futurity (Kafer 2013), amongst other manifestations/imaginations of the future. Within this framing, the APSA presidential theme of futurity asks what role literature, the arts, and culture play in envisioning futurities and practices of worldmaking (Pratt 2022). Or, as Pratt writes, “even if you accept that it’s too late for carbon-based life to survive on earth, there is still a rich creative challenge in thinking about how to live this ending… how to engage the other life-forms that will share the experience…. [T]he pessimist standpoint has a futurity too, the possibility of a buen vivir unfolding toward extinction.”

In this conference, we invite participants to ruminate on questions of futurity—for example, how Lusophone cultural production has and proposes to understand the future, how we collectively imagine utopian/dystopian possibilities (JLS Vol 7 No 1 [2022]: Special Dossier: Narratives of the Apocalypse), how we enact decolonial practices (JLS Vol 8 No 1 [2023]: Special Issue: I Am Embedded in a History of Imposed Silences: Prácticas literárias e artisticas decoloniais luso-africanas) for rethinking the past, unthinking the contemporary moment, and thinking just over the horizon of possibilities.

 

“Além das Luso-Futuridades”

Segundo Amir Eshel, a sociedade ficou presa na repetição dos traumas do passado. Mas poderíamos, juntamente com Jacques Derrida, considerar a diferença entre um futuro previsível (futuro), já no horizonte como uma continuação do presente, e o tempo por vir (à-venir), que abre novas possibilidades e que, portanto, perturba a projeção da mesmice no tempo pela frente. Neste sentido, a literatura e as artes contemporâneas envolvem-se com acontecimentos passados — nem tanto para relembrar esses momentos, mas para oferecer um caminho a seguir, a possibilidade de confrontar o hoje e vislumbrar um amanhã diferente. Num momento de crise e catástrofe, o tema de futuridade reconhece a necessidade de reimaginar o que está logo além do horizonte do tempo e reconhecer o que é e o que será a perda futura (Halberstam 2005, 2011, 2018; Pratt 2022). Ou, como afirma Mary Louise Pratt, temos que julgar o conceito de futuridade (ou, melhor, todos os conceitos) por sua dimensão ética e reconhecer que eles “devem ser julgados tanto pelos futuros que permitem ou impedem como pelos seus sucessos ao fazê-lo”.

A futuridade é, segundo o Dicionário Oxford, um tempo futuro, um acontecimento futuro, uma existência renovada. A futuridade tem sido algo constante na produção cultural lusófona, desde os tempos coloniais até ao período da Idade Moderna e as suas expressões de futuridade de povoamento (Tuck e Yang 2012), até aos modernistas brasileiros do início do século XX e até ao momento contemporâneo. A futuridade sustenta discussões teóricas e a realidade material dos/nos trabalhos criativos do afrofuturismo (Dery 1993), da futuridade indígena (Dillon 2012), da futuridade queer (Edelman 2004, Muñoz 2009), da futuridade crip (Kafer 2013), entre outras manifestações/imaginações do futuro. Dentro deste enquadramento, o tema presidencial da APSA — o de futuridade — questiona qual o papel que a literatura, as artes e a cultura desempenham na concepção de futuridades e nas práticas de criação de mundos (Pratt 2022). Ou, como escreve Pratt, “mesmo que se aceite que é tarde demais para a sobrevivência da vida baseada no carbono na Terra, ainda há um rico desafio criativo em pensar sobre como viver este fim… como envolver as outras formas de vida que vão compartilhar essa experiência…. [O] ponto de vista pessimista também tem uma futuridade, a possibilidade de um buen vivir que se desdobra rumo à extinção”.

Neste congresso, convidamos os participantes a refletirem sobre questões de futuridade — por exemplo, como a produção cultural lusófona tem e se propõe compreender o futuro, como imaginamos coletivamente possibilidades utópicas/distópicas (JLS Vol 7 No 1 [2022]: Special Dossier: Narratives of the Apocalypse), como efetuamos práticas decoloniais (JLS Vol 8 No 1 [2023]: Special Issue: I Am Embedded in a History of Imposed Silences: Prácticas literárias e artisticas decoloniais luso-africanas) para repensar o passado, “despensar” o momento contemporâneo e pensar um pouco além do horizonte de possibilidades.